As respostas de Luís Papança

Luís Filipe Brasão Cabrita Lopes Papança, treinador de futsal, natural de Évora, tem aos 39 anos um percurso desportivo bastante extenso… em que entre as muitas qualificações que possuí, a dedicação é um dos atributos que se observa nas entrelinhas do seu curriculum… Entre os imensos Títulos que já conquistou (individuais e colectivos), das inúmeras formações em que já participou… começamos por destacar uma que deu recentemente em 2011…

Dar formação para Treinadores de Futsal (Nível I), na qual participaram indivíduos em iniciação bem como indivíduos já com experiência na modalidade. Neste sentido gostaria de saber se para além de ensinar também aprendeu?
- Estamos sempre aprender qualquer coisa e eu normalmente procuro sempre ouvir atentamente novos e velhos, é na troca de idéias que vimos por vezes que há sempre mais qualquer coisa a acrescentar, o misto de experiência e inexperiência às vezes leva-nos a reparar em pormenores que antes não tinhamos reparado.


Considera que existe potencial em Portalegre para termos treinadores para altos patamares nacionais?
- Avaliar os treinadores de Portalegre sem conhecer as suas idéias a sua forma de treinar, modelo de jogo etc é complicado, pelo que conheço existe gente capaz de bons trabalhos pelo seu carácter e conhecimento da modalidade que já se começam a destacar.

 
Para quem possa querer iniciar-se ou actualizar-se na modalidade… o que aconselha?
- Dando o meu exemplo: iniciei-me na internet onde há tanta coisa para procurar, depois procurei literatura e dvd´s mas o que me enriqueceu foi ver in-loco muito futsal e trocar idéias com alguns treinadores, ao principio copiamos tudo e achamos que conseguimos fazer tudo mas em confronto com a realidade ajustamos as nossas ideias ao que os jogadores conseguem fazer.

 
Vamos dissecar o seu curriculum desportivo… de 1985 a 1993 foi atleta de futebol. Que boas recordações guarda desta fase (do escalão Infantis a Seniores)?
- Do futebol guardo essencialmente coisas boas como o convívio o treinar á chuva ao frio mas acima de tudo o gosto pela modalidade, tive bons e péssimos treinadores mas eram todos boa gente, ainda tenho amigos com que joguei nos infantis, pertenci a uma geração de bons jogadores que nos tempos de hoje com melhores condições tinham dado muito ao futebol em Évora mas estavamos numa altura em que a aposta nos jovens era muito pouca, hoje felizmente estamos um pouco melhor.

 
De 1995 a 2000 é árbitro de futebol 11… o que o levou a ser árbitro? E o que reteve com esta experiência?
- A Arbitragem para mim será sempre uma paixão mas infelizmente as cabeças iluminadas deste mundo tem formas de pensar diferente, posso dizer que nalgumas associações temos árbitros que são treinadores, mas em Évora é tudo muito complicado, é de facto uma frustração pois era um bom árbitro …

 
Os cartões de árbitro estão arrumados de vez?
- Não definitivamente, talvez um dia me farte do futsal …..  já tive desses dias.

 
De 1997 a 2001 foi Treinador de Guarda Redes de futebol 11 – feminino. Que notas tira dessa passagem? Sendo o guarda-redes uma posição que requere uma atenção e um cuidado especial, diga porque é que no geral este tipo de treinamento é tão descurado?
- Foi fantástico esse trabalho pois como atleta era guarda-redes e sentia a necessidade de treino diferenciado, é também uma das minhas paixões, esta posição sem trabalho especifico não tem sucesso. A nível de futsal neste momento não me preocupa pois tenho um excelente treinador de guarda-redes em quem confio. Relativamente ao descurar desta posição tem mesmo a ver com a carolisse no futebol, cada vez há menos e alguns dos que há pensam apenas em fazer remates á baliza mas há tanto para fazer e de forma tão simples, basta um pouco de pesquisa para fazer um trabalho razoável.

 
Na época 1999/00 tem a primeira experiência como Treinador principal de futsal (Casa do Benfica em Évora – seniores masculinos) … como surge esta oportunidade?
- A oportunidade surgiu com um grupo de amigos que jogava em torneios de verão, nessa época fomos campeões com 9 atletas que nem sequer treinavam em conjunto.

 
Em 2000 – resolve experienciar uma nova modalidade, tirando o Curso de Treinador de Futsal - Nível I em Leiria, e em paralelo, volta a ser atleta nesta modalidade. É aqui que o futsal ganha espaço para se tornar “um amigo inseparável”?
- Tirar o curso em Leiria foi o primeiro passo para ser o que sou hoje, foi o primeiro curso realizado em Portugal, e fi-lo com um grande amigo que hoje por outros motivos já deixou a modalidade. Os cursos de treinador surgem daquilo que penso ser um notório interesse por aprender sempre mais e não me encostar à bananeira, posso dizer que em quilometros já foram muitos e continuam a ser, este ano já estive em formação em Leiria, Barreiro, Setúbal e já marquei presença em Coimbra, Seixal e Alcochete pois acho que aprendemos sempre alguma coisa.


Em 2004 (AF Algarve) e em 2005 (FPF) obteve os Níveis II e III de Treinador de Futsal, respectivamente. São muitos quilómetros… o que o fez “correr”?
- Quanto ao que me fez fazer estes quilómetros, primeiro em Leiria, depois Algarve e por último Rio Maior foi sem duvida o facto de não haver cursos em Évora, fiz o primeiro curso de treinadores de Nível I em Portugal, depois fiz o Nível II no Algarve e por último o Nível III em Rio Maior, fi-lo por gosto e porque na altura o podia fazer, hoje não voltaria tirar o último curso pois não vale a pena, existem regulamentos mas as associações não os cumprem nem obrigam as equipas a ter treinadores qualificados.


Ganhou o prémio de Melhor Treinador de Futsal Feminino pela AF Évora por 3 vezes (2009, 2010 e 2012) a par de ter ganho todas as competições internas… por 4 anos consecutivos.
“Hoje” consegue entender e explicar-nos porque não ganhou o prémio de melhor treinador em 2011?
- Uma palavra bastava “AZIA”. O regulamento é desajustado e implica a votação dos treinadores, podemos votar em qualquer um, nesse ano fiquei em 3º lugar e este ano devo voltar a não ganhar, mas não é por isso que no Futsal Feminino em Évora vou deixar de ser o melhor, as minhas atletas sabem e isso basta-me. Há formas mais correctas de o fazer e estou disponível para dar ideias.

 
Ser treinador é algo que o realiza pessoalmente?
- Sim, sinto que neste momento sou um bom treinador mas continuo a trabalhar para ser excelente, ainda tenho várias lacunas a colmatar para lá chegar.

 
Actualmente encontra-se a treinar na Associação Académica da Universidade de Évora, um projecto que se iniciou esta época 2012/13. Que objectivos lhe foram colocados? E quais as condições de trabalho oferecidas?
- Ninguém nos colocou objectivos, esses foram traçados por nós e foram cumpridos, o que vier a mais é um ganho. As condições são as necessárias para um tabalhao de sucesso e está á vista.

 
No entanto, a ligação à AAU Évora já vem desde 2001 como Selecionador/Treinador Universitário. Como descreve esta experiência e que resultados desportivos tem obtido?
- Voltei a estar ligado este ano, no período anterior estive presente em duas fases finais na vertente feminina sem sucesso (apesar da presença na fase final já ser um sucesso), registo a vitória á Lusófona equipa que nessa altura não perdia um jogo á 3 épocas.


Este ano, com a conquista do Campeonato Distrital… é Penta Campeão. Que significado tem para si este Título?
- Significa que ninguém tem trabalhado como nós e por isso é de todo merecido, mas é claro que significa muito por ser o primeiro da AAUE e pela aposta que fizeram em nós sem exigências.

 
Tanto se fala de competitividade (ou na sua falta), entende que manter uma competição com equipas filiadas na AFE e na AFP, é a solução ideal para o problema?
- Penso que tem sido muito positiva para ambos, mantém a competitividade e prolonga o período competitivo, falta alterar o formato da competição, na minha óptica o campeonato regular com um play-off até á final á melhor de 3 seria muito vantajoso para todos.


De forma resumida, como foram as participações da sua equipa na Taça Nacional? O que se pode esperar para este ano?
- Foram sempre a melhorar, este ano com este novo formato não sei mas se ficarmos nos dois primeiros lugares no nosso grupo subimos ao Campeonato Nacional o que seria um grande prémio para esta equipa, infelizmente os iluminados da FPF em conjunto com as Associações mais fortes colocam este ano o 2º lugar a disputar este acesso, de outra forma já lá estavamos.


O “sua equipa” transitou toda de um outro Clube da cidade de Évora. Qual o segredo para manter a união?
- Não há segredos, todos gostamos de futsal e queremos continuar a evoluír.


Quando e onde foi a última derrota (ao nível das competições distritais)?
- De cor não sei mas penso que em Março de 2008 daí para cá temos tido “sorte”.


Em relação às médias, que valores apresenta por época de golos marcados e sofridos?
- Nestas cinco épocas com este grupo marcamos 1028 golos e parece-me que sofremos 214.


Este ano, curiosamente existe uma equipa a quem não conseguiu ganhar (por duas vezes). Esta equipa é agora finalista da Taça e vão também disputar a Supertaça da AFE, com a AAUE. Prognósticos?
- Curiosamente não ganhamos mas por demérito próprio e não mérito do adversário apesar da qualidade do mesmo fomos sempre superiores, no primeiro jogo fomos a uníca equipa a querer ganhar mas corremos sempre contra o prejuízo, no segundo tivemos o pássaro na mão mas deixamo-lo fugir a 4 segundos do fim. É costume dizer que os mais fracos galvanizam-se com os mais fortes.


Que tipo de análise prévia faz ou consegue fazer, sobre as equipas adversárias (incluindo as da Taça Nacional)?
- Vamos jogar com a Quinta dos Lombos com quem nunca pontuamos e com o Padernense com quem equilibramos a partida mas ao qual ainda não conseguimos ser superiores, posso dizer que vão ser jogos muito competitivos e vamos jogar cada jogo como se fosse uma final.


Qual o sistema de jogo que gosta de ver a sua equipa praticar?
- Gosto de ver a minha equipa jogar em 3:1, neste momento estamos a trabalhar uma variante com o Pivot Rotativo mas no futuro quero ver a equipa a jogar em 4:0, temos condições só ainda não o pusemos em prática pois no nosso campeonato com equipas muitos fechadas não é concretizável fazê-lo.


O final desta época marca o início de uma nova competição em Portugal para 2013/14, no futsal sénior feminino. Peço a sua explicação para melhor se perceber, o que vai acontecer após o final do Campeonato Distrital?
- Esta época marca o inicio de uma nova era para o futsal feminino com grandes jogos no Campeonato Nacional e a aliciante Taça de Portugal para todas as equipas nacionais. O Apuramento é feito por 24 equipas, as campeãs distritais e os segundos classificados das associações com mais equipas, na primeira fase são compostos grupos de 3 equipas e as 2 primeiras sobem ao campeonato nacional. Quanto ao campeonato distrital permanece igual.


Como define a modalidade – futsal?
- Futsal é paixão, critaividade, emoção e uma grande riqueza tática que o futebol não tem.


O que é jogar futsal? 
- Essa pergunta é para atletas mas eu continuo a gostar de jogar.


Já treinou equipas de futsal masculinas e femininas. Quais as diferenças e semelhanças?
- Ui são tantas é melhor não pormenorizar mas elas são muito sensíveis a qualquer alteração na vida.


Desde a época 2006/07 até 2011/12 que acumulou a gestão técnica de duas equipas seniores em simultâneo. Como conseguia fazer esta coordenação?
- Ao contrário do que pode parecer durante essas épocas não foi difícil mas ocupava-me toda a semana, quem corre por gosto não cansa muito menos quando há resultados positivos.


Temos Campeonatos competitivos, equipas com excelentes prestações na UEFA Futsal Cup, Selecções Nacionais que alcançam excelentes resultados, temos atletas e treinadores portugueses no estrangeiro (e a ganhar provas) e até Selecionador Nacional português noutro País. Na sua opinião quanto vale o “nosso” futsal?
- Na minha opinião tanto os treinadores como os jogadores(as) portugueses(as) são muito criativos, só nos falta mesmo condições financeiras se as houvesse Benfica e Sporting teriam muitas dificuldades em vencer outras equipas pois com mais horas de treino seria mais fácil melhorar e crescer .


O futsal (que “entrou no nosso País” na época de 1985 e chamava-se ” Futebol de Sala”) tem ao longo dos anos vindo a evoluir. A par com o seu trajecto enquanto Treinador, o que lhe apraz assinalar?
- Apraz-me dizer que ainda há muitas barreiras a ultrapassar eu penso que ainda tenho muito por onde evoluir nos métodos de treino, de ano para ano vou melhorando a minha forma de ver o treino e o desenrolar do mesmo.


O dirigismo também evoluiu? Ou ainda há quem queira ganhar Títulos e que se trabalhe “de borla”?
- O dirigismo está igual, grande parte trabalha de borla eu troco esse valor por condições para as atletas foi o que pedi á AAUE.


A modalidade já teve uma Federação própria (actualmente está sob a alçada da Federação Portuguesa de Futebol…) considera que é um assunto que tem de ser repensado?  Porquê?
- Fazia todo o sentido que acontecesse pois o futsal deve ser envolvido de pessoas “crescidas” no meio, neste momente a FPF tem algumas dessas pessoas mas na minha opinião é melhor esperar 3 a 4 anos para ver o que nos trás o novo plano estratégico da FPF para o Futsal e depois podemos tirar conclusões.


A modalidade – futsal, está em franco desenvolvimento ou é apenas uma frase cliché?
- Penso que de alguma forma ainda estamos em desenvolvimento, a reorganização das competições vai trazer mais retorno e penso que nos próximos anos pode voltar a evoluír.


Enquanto Treinador, que momento(s) jamais esquecerá?
- São tantos que torna-se difícil enumerar, espero ainda por aquele que mexa comigo mas por enquanto não consigo colocar nenhum acima de outro, felizmente tenho muitos que não esqueço.


O Mister Luís Papança tem como objectivo ser…

… Seleccionador Distrital?  Não
… Treinador principal de uma equipa na nossa 1.ª Divisão Nacional?  Sim
… fazer parte dos quadros Técnicos da Selecção Nacional?  Não
… Treinador de uma equipa e/ou Selecção estrangeira?  Sim


Por fim...
O que posso dizer é que ninguém é mais sábio que os outros e que o confronto de ideias é muito importante para o crescimento da modalidade, felizmente troco ideias com alguns treinadores e evoluo com isso, não me considero superior a ninguém e não tenho vergonha de perguntar quando tenho dúvidas, ser treinador é estar sempre em actualização e só assim podemos melhorar , é também ouvir os atletas sem receio que muitas vezes eles tenham razão pois muitas vezes eles têm.



O blog Pixeis de Desporto agradece a disponibilidade do Mister Luís Papança para esta "conversa".

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